segunda-feira, 22 de março de 2010

21 de Março - Dia da Poesia


O Dia Mundial da Poesia, que se celebra a 21 de Março, foi criado na XXX Conferência Geral da UNESCO, no dia 16 de Novembro de 1999. O propósito deste dia é promover a leitura, escrita, publicação e ensino da poesia em todo o mundo.
Ao longo da semana, são muitas as actividades que lembram este lado mais belo da língua e prometemos, depois, deixar aqui uma nota sobre o que irá acontecer. Até lá, partilhamos convosco dois poemas. Um de Luís de Camões, outro de António Gedeão.



Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,

O testo nas mãos de prata,

Cinta de fina escarlata,

Sainho de chamelote;



Traz a vasquinha de cote,

Mais branca que a neve pura.

Vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,

Cabelos de ouro entrançado

Fita de cor de encarnado,

Tão linda que o mundo espanta.



Chove nela graça tanta,

Que dá graça à fermosura.

Vai fermosa e não segura.

Luís de Camões
 
............
 
POEMA DA AUTO-ESTRADA

Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta.
Vai na brasa, de lambreta.
Leva calções de pirata,
vermelho de alizarina,
modelando a coxa fina
de impaciente nervura.

Como guache lustroso,
amarelo de indantreno,
blusinha de terileno
desfraldada na cintura.

Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa, de lambreta.

Agarrada ao companheiro
na volúpia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.

Grita de medo fingido,
que o receio não é com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pela cintura.

Vai ditosa, e bem segura.

Como um rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.

Urrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte,
enfia pelo horizonte
como um punhal que se enterra.

Tudo foge à sua volta,
o céu, as nuvens, as casas,
e com os bramidos que solta
lembra um demónio com asas.

Na confusão dos sentidos
já nem percebe, Leonor,
se o que lhe chega aos ouvidos
são ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor.

Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa, de lambreta.

António Gedeão

Alicia Kirsch

Sem comentários:

Enviar um comentário